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sábado, 17 de abril de 2010

Oitenta.


Eu pintei a lua com cores fortes.
Eu desenhei o sol com um pouco de frieza.
Eu subi as escadas em um prédio de vinte e três andares.
Eu desviei devagar das curvas retas da minha estrada.
Eu congelei na areia de uma pequena ilha do Atlântico.
Eu nunca parei de transpirar dentro de um quarto de hotel no inverno.
Eu já arranquei a verdade de dentro de uma caixa.
Eu sempre enxerguei a mentira nas boas ações.
Eu me cansei de procurar livros em estantes vazias.
Eu me manipulo á limpar o pó concentrado debaixo de palavras.
Eu não tento fazer ninguém falar o que eu quero ouvir.
Eu não consigo engolir os olhares inimigos em rostos amáveis.
Eu não tento ouvir o que eu não quero que as pessoas falem.
Eu tenho vivido pra uma pessoa só e todo mundo anda vivendo só pra mim.
Eu me visto com a podridão de bebedeiras noturnas, eu vomito estrelas.
Eu vejo que borboletas me procuram e que as moscas me rondam.
Eu estou limpa e brilhante, feliz e lúcida.
Eu estou suja, anti-social e com nojo de mim mesma.
Eu não quero verificar e transferir seus problemas.
Eu continuo triste em dias coloridos e alegres.
Eu alegro noites cinza dos que estão na minha direção.
Eu busco antigüidades nas lojas fúteis dos shoppings esnobes.
Eu encontro novidades em lojas francesas dos anos 60.
Eu quero milímetros de consideração das pessoas certas.
Eu me entrego nas eternas demonstrações de afeto das pessoas erradas.
Eu não encontro mais nada que tenha aquele toque mágico no ar.
Eu sou uma fábrica da época da Revolução Industrial.
Eu não paro nunca, eu não vou parar nunca mais.
Eu cansei de viajar enquanto o vento bagunça minha mente na rua.
Eu não sei qual é o sentido disso tudo, eu desabafo momentos nas entrelinhas.
Eu já pulei na frente do trem do Paraíso quatro vezes, eu já fui pro inferno.
Eu vivenciei meu próprio enterro e fiquei de luto por mim mesma.
Eu escrevo textos como esse pro luto passar, quando passar vou parar de escrever.
Eu acho que vou escrever por oitenta anos sem entender essa sensação.
Eu....
Você....

Oitenta anos é muito pouco.